segunda-feira, outubro 31, 2011
O SACI É NOSSO!
Saci é nosso Ivan Lessa (BBC.Brasil)
Em 1917, nosso querido Monteiro Lobato lançou no Estadão uma campanha em que pedia aos leitores que lhe mandassem casos de aparições do Saci Pererê, aquele moleque crioulinho de gorro vermelho, uma perna só e que pita cachimbo. Não sei dizer, mas talvez tenha sido da campanha que surgiu um dos muitos clássicos de nosso maior escritor de literatura infanto-juvenil, O Saci.
Lembro-me, em minha infância, em plena São Paulo dos Matarazzo, de procurar saci no meio daquela folhas bailando em pequenos redemoinhos de vento. O saci era parte de meu e nosso folclore. Mais do que o monstro do dr. Frankenstein, encarnado pelo Boris Karloff, e o Drácula, do Bela Lugosi.
Mesmo citadino, eu sabia, graças às histórias contadas por minha avó, de outros entes de nosso imaginário: Boitatá, Curupira, Boto, Iara, Mula-sem-Cabeça, Cuca, Negrinho do Pastoreio. Todos eles habitavam o pequeno quintal da rua Tutóia onde eu fingia que era criança.
Depois parei com essas besteiras, cresci, perdi a graça e, se bobeassem, estaria como os brasileiros de hoje burramente comemorando o Halloween, a vossa “data magra” conhecida como Raloim.
Isso a propósito do fato de que gentil amigo enviou-me, do interior de São Paulo, boné, camisa e decalcomanias oriundas de Botucatu, onde fica a sede da Associação Nacional de Criadores de Saci (A.N.C.S). Botucatu não brinca em serviço.
Ou só brinca. Já declarou guerra à Inglaterra e se declarou vitoriosa porque o adversário abandonou o jogo. A Associação luta para fazer do 31 de outubro, o agora já tristemente tradicional Raloim, o Dia do Saci – causa das mais justas a qual divulgo com prazer além de pedir o apoio de todos.
Não nos esqueçamos ainda de São Luiz do Piratininga, também interior de São Paulo, onde se encontra a Sociedade de Observadores de Saci, que agora mesmo, em setembro, promoveu o Festival do Saci, onde entre casarões do final do século XVIII, contaram-se histórias das mais variadas entidades numa tentativa de preservar nossas tradições populares.
Houve um concurso de melhor “causo” de aparição do Saci e eu sinto não estar presente, com meus novos e rubros boné e camisa, para contar de como, aqui no meio de Londres, num belo dia de outono, eu flagrei um saci em pleno pé-de-vento em Piccadilly Circus.